Artigos Clássicos

Revendo a Cicatriz Tricofítica

Publicado em

25/04/2023

Revendo a Cicatriz Tricofítica
Dr. Henrique Radwanski

Os colegas da ABCRC podem questionar: por que rever um assunto que parece estar esquecido, dentro de uma gaveta chamada “Técnicas ultrapassadas”? Dentro da cirurgia da restauração capilar, lá estão o retalho temporo-parieto-occipital de Juri, os fios sintéticos, os procedimentos de redução de área glabra… Quem ainda se preocupa com uma cicatriz linear na era (quase exclusiva) do FUE? Aliás, na ABCRC, tenho certeza que muitos jamais realizaram a colheita de unidades foliculares removendo uma tira de pele.

Entretanto, é minha opinião que a técnica do fuso de pele ainda perdura, e continuará sendo indicada em determinadas situações. Alguns pacientes – normalmente acima de certa idade – não permitem raspar a cabeça e não se incomodam com uma cicatriz discreta, que nunca vai aparecer debaixo dos cabelos. Podem conhecer um paciente amigo que já fez a técnica FUSS ("follicular unit strip surgery”) e que mostrou a cicatriz, ou seu barbeiro mencionou que a linha cicatricial fica realmente muito discreta. Vídeos de nossos casos servem para educar os pacientes de como uma incisão pode ficar muito discreta. Portanto, é válido recordar a preocupação que alguns colegas tiveram, num passado não muito distante, sobre como deixar uma incisão a mais discreta possível.

André Camirand, cirurgião plástico do Canadá, já havia publicado uma tática cirúrgica na incisão do retalho facial que permitia esconder melhor a cicatriz intrapilosa: ao invés de inclinar o bisturi paralelamente às hastes de cabelo, ele propositalmente fazia uma incisão perpendicular, de forma a cortar os folículos na borda da incisão e assim permitir que fios crescessem através da cicatriz (A COMPARISON BETWEEN PARALLEL HAIRLINE INCISIONS AND PERPENDICULAR INCISIONS WHEN PERFORMING A FACELIFT, Plast. Reconstr. Surg. 1997, janeiro 99(1): 10-15). 

O Dr. Mario Marzola, da Austrália, descreveu o fechamento tricofítico após a retirada do fuso da área doadora, na revista Hair Forum, da ISHRS, em 2005 (volume 15, no.4, julho-agosto). Com o título de TRICHOPHYTIC CLOSURE OF THE DONOR AREA, ele descreve como consegue camuflar uma cicatriz, desepitelizando a borda superior da ferida cirúrgica, permitindo o crescimento de fios de cabelo por dentro da incisão. Ele admite que, se houver um alargamento da cicatriz, os fios poderão não esconder bem a incisão, portanto todo o cuidado deve ser tomado para evitar tensão no fechamento da ferida cirúrgica. Ele cita no artigo seu estudo de 26 pacientes, que tiveram metade da cicatriz fechada com o biselamento da incisão (sempre da borda superior), e a outra metade com fechamento simples. O autor notou uma evidente melhora no aspecto após sete meses do lado tricofítico. Ele conclui dizendo que esse procedimento não é uma panaceia, mas serve para deixar uma incisão linear mais bem escondida. 

Curiosamente, no mesmo volume do Hair Forum, um outro autor, Patrick Frechet, da França, propõe a mesma técnica, mas desepitelizando a borda inferior, associada ao descolamento supra-galeal na margem superior. Seu artigo é intitulado DONOR HARVESTING WITH INVISIBLE SCARS. O título já merece uma crítica, uma vez que não podemos prometer ao paciente que sua cicatriz ficará invisível. Existem fatores que não podem ser controlados pelo cirurgião; mesmo com a melhor técnica cirúrgica, sabemos que alguns pacientes cicatrizam com menor qualidade, deixando cicatrizes alargadas. De qualquer maneira, Dr. Frechet descreve com muito entusiasmo como suas incisões ficam bem finas. 

Lembro bem que nos Congressos subsequentes aos da ISHRS assisti a muitas mesas redondas sobre esse tema, com pequenas variações: discutia-se se era melhor aparar a borda superior, a inferior ou mesmo as duas. Também havia debate sobre se era necessário fazer o fechamento tricofítico na 1ª cirurgia ou se deveria aguardar a última sessão do paciente. Com o tempo, na minha prática, passei a usar este recurso em poucas situações: exclusivamente em homens, na maioria jovens, onde o cabelo mais curto poderia deixar transparecer a cicatriz linear. Na minha experiência, pacientes masculinos acima dos 50 anos e mulheres não necessitariam deste procedimento, uma vez que – na grande maioria das vezes – a cicatriz linear ficava muito bem escondida. Atualmente, na época dominada pela FUE, a discussão maior é como corrigir as cicatrizes (ressecção, transplante sobre a cicatriz, micropigmentação), mas aí já seria assunto para outra coluna.

Fonte:

ABCRC

Outros Artigos

abr
2023

A texture-driven model for male baldness

Artigos

Uma das dificuldades no dia a dia da tricologia e restauração capilar é tentar mostrar aos pacientes como seria a evolução da calvície ao longo do tempo, e assim conseguir provar a necessidade de tratamentos preventivos.

Leia Mais »
abr
2023

Suspensão da venda de pomadas capilares pela Anvisa após consumidores relatarem cegueira temporária

Artigos

Em 12 de janeiro de 2023, foi publicada no Diário Oficial da União por meio do  Ministério da Saúde/Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a resolução n. 138 cancelando a produção de uma pomada capilar antifrizz.

Leia Mais »
abr
2023

Tipos de trauma durante a implantação de enxertos FUE com pinças nas incisões prévias: erros e soluções

Artigos

Existem diferentes tipos de técnicas de implantação, cada uma delas diferenciadas de acordo com tipo de instrumento - alguns mais antigos, como as pinças, e outros mais recentes (implanters) 

Leia Mais »
abr
2023

Relato de caso de Fibrilação Atrial durante indução anestésica de cirurgia de transplante de cabelo

Complicações

Mais uma vez, Dr. Sandro Salanitri empresta seu precioso tempo, para documentar um fato atípico na vivência cirúrgica dos cirurgiões da restauração capilar. Fato esse, que dificilmente

Leia Mais »
abr
2023

Revendo a Cicatriz Tricofítica

Artigos Clássicos

Os colegas da ABCRC podem questionar: por que rever um assunto que parece estar esquecido, dentro de uma gaveta chamada “Técnicas ultrapassadas”? Dentro da cirurgia da restauração capilar, lá estão o retalho temporo-parieto-occipital de Juri, os fios sintéticos,

Leia Mais »
abr
2023

Reunião especial do Paper Club congrega Fundadores e Presidentes para celebrar os 20 anos da ABCRC

Paper Club

Médica Dermatologista pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Integrante do corpo clínico do Grupo Speranzini. 

Leia Mais »
abr
2023

Exossomas na área de restauração capilar

Artigos

A comunicação intercelular é alvo de pesquisa tanto pelo potencial diagnóstico e terapêutico frente aos processos fisiológicos e patológicos do organismo, quanto para uma melhor elucidação desses processos. 

Leia Mais »

Sede ABCRC

Entre em contato com a ABCRC

Contate-nos

Preencha os Campos abaixo

Enviar »